30 junho, 2012

O TDAH e a Ritalina



O Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade- TDAH, é um transtorno neurológico. Ou seja, não depende da vontade da pessoa, não é um comportamento intencional, não é manha como muitas pessoas afirmam e não passa pelo necessidade de chamar atenção- como muitos pais e alguns educadores costumam pensar.

Embora o mesmo venha sendo divulgado com relativa notoriedade pela mídia e sendo absurdamente aceito e validado apenas por uma breve consulta nos manuais diagnósticos como DSM-IV, por exemplo. Acho prudente frisar que sintomas por si só não determinam uma patologia e não a validam somente por preencher um número satisfatório de condições que são coletadas individualmente. É preciso que o indivíduo seja entendido, analisado e "interpretado" mediante a observação de como o mesmo se comporta em vários ambientes que o mesmo frequenta. Como pontua Bastos(2000)


"O entrevistador deve sempre ter em mente que uma doença não é um mero conjunto de sinais e sintomas, mas sim uma falha, um bloqueio ou um impedimento do funcionamento normal ou ideal do organismo, geralmente numa tentativa de refazer, repor, reparar, ou restituir o equilíbrio perdido. As doenças não caem do céu como maldições imprevisíveis, mas têm cada uma, a sua história natural, desde uma simples unha encravada até a AIDS, a tuberculose ou a esquizofrenia. Os sintomas não surgem isoladamente, ao acaso." (Bastos, 2000, p,78)

No caso do TDAH, é interessante averiguar se o mesmo se expressa em casa, no colégio e se faz parte de um comportamento que se faz presente em boa parte das ações cotidianas da pessoa a ser avaliada. É preciso entender a dinâmica que rege o funcionamento global da pessoa. 

Se criança, há que se ter mais cuidado ainda porque faz parte da infância estar em constante transformação e reformulação física-cognitiva-afetiva. E neste cenário é esperado, é normal que determinados comportamentos sejam interpretados superficialmente como patológicos e lá vamos nós legitimando a era da Ritalina.

A Ritalina, é o medicamento mais comum e amplamente usado no Brasil- por se tratar de uma droga considerada de "perfil seguro." Seus efeitos no organismo asseguram uma supressão temporária  dos comportamentos observados no TDAH. Passado o seu efeito os sintomas retornarão. A literatura clínica nos aponta que não é interessante que no manejo do TDAH, a abordagem escolhida seja unicamente medicamentosa, ou só psicoterápica.

O ideal é combinar o aspecto psicoeducativo associado se for o caso ao medicamento.  É "ensinar" estratégias de enfrentamento aos pais, aos educadores e fazer do medicamento, quando estritamente necessário, um auxílio. Lembrando que, o medicamento por si só, nada ensina sobre o sofrimento, impactos sofridos, estigmas, etc que a pessoa acometida pelo transtorno venha enfrentando no seu dia a dia.

Faz-se necessário ressaltar que há um número relativamente grande e cada vez maior de crianças que apresentam alguns traços de comportamentos que se assemelham ao TDAH. Mas, não raro, não preenchem critérios diagnósticos suficientes para ser enquadrados em nenhuma síndrome ou transtorno. 

Atenção pais, educadores e sociedade civil. Não legitimem mais essa "onda" de validar uma única opinião profissional. Use de bom senso, sensibilidade e principalmente de respeito. Ser criança é incomodar, é bagunçar é fazer barulho, etc.

Nós adultos é que estamos cada vez mais impacientes, intolerantes e insensíveis ao universo infantil e aos seus dramas, às suas crises que mais nos exigem carinho e entendimento que medicamentos! Afinal, quem de nós, quando criança hoje, não teria um TDAH facilmente? 

Por Dani Souza

09 junho, 2012

Quando os adultos são adultescentes!




                      


A parte mais difícil em se responsabilizar pela vida, pelas escolhas e principalmente pelo desfecho que a própria vida "tomou" reside na questão de não aceitarmos as consequências dos nossos atos. Culturalmente, o brasileiro adora esperar por dias melhores, acreditar em um futuro melhor - mesmo que se encontre em uma profunda inércia, mesmo que não faça a sua parte, ele acredita em um milagre, sem se implicar no processo. 


Em um mundo onde as opções são diversas e as escolhas não refletem mais uma análise lógica e sim uma análise impulsiva, se decepcionar consigo mesmo e não aceitar a sua cota de culpa no processo tem se mostrado um movimento cada vez mais presente na dinâmica do comportamento global das pessoas que assim procedem.

O que mais chama a atenção neste movimento, é a geração de adultescentes que cresce assustadoramente. Há um número significativo de pessoas na "casa" dos 30 e 40 anos completamente infantilizados, irresponsáveis e sem a mínima condição de entender o ciclo de ação-reação que envolvem as suas próprias escolhas.

Atenção para uma constatação: Não há escolha neutra, toda escolha implica em ganhos e perdas. O esquivar-se, o não escolher já é uma escolha. E se você fez as contas e percebeu que perdeu mais que ganhou ao longo da vida, cabe a você refazer, repensar e replanejar a sua trajetória revisando as ferramentas e instrumentos que tem usado até agora para auxiliar nesse processo (mecanismos de defesa, padrões estereotipados de comportamento, ganhos secundários, etc).

Há muito no social de reforçador para tais atos. Não se implicar, não se responsabilizar pelos seus atos e consequentemente pelo desfecho dos mesmos tem muito a ver com o momento social de total permissividade que estamos enfrentando nas relações humanas. Se tudo é permitido, o balizador e normalizador do comportamento social passa ser o próprio indivíduo que decide o que deve ou não fazer, criando suas próprias regras e leis em uma espécie de "moral paralela."

A geração dos adultescentes conta com facilitadores dentro do próprio lar que, são pessoas que estão sempre encobrindo suas ações falhas, impulsivas, irresponsáveis e em alguns casos explosivas. E o pior, se responsabilizam pelos seus atos- extraindo de suas ações o fator aprendizado e culpabilizador- mecanismos tão necessários a uma reestruturação cognitiva. 

Se você não "paga o preço" pelo seu erro, não há aprendizado e a tendência é repetir em uma situação futura o mesmo comportamento. Os adultescentes de hoje são reflexos de uma criança que no passado não foi frustrada, contrariada e não aprendeu a ter limites. Como dar limites agora? Quem vai dar os limites? Basta somente pagar por terapia? Já dizia a minha avó:"Quando a vida não ensina pelo amor, ela ensina pela dor!" 




Por Dani Souza 




04 junho, 2012

Entendendo a Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença crônica e incapacitante que afeta a população mundial. Independe de classe social, gênero e idade. Tem como fator preditivo de sucesso o diagnóstico precoce. Quanto antes for diagnosticado maiores as chances de sucesso no tratamento.

O esquizofrênico pode escutar vozes e acreditar que pessoas estejam controlando os seus pensamentos ou fazendo conspirações contra ele. Tais vivências tendem a ser aterrorizantes e frente ao seu conteúdo podem causar medo, afastamento ou como é comum em alguns casos - agitação extrema.

Tais pessoas podem ter diversos tipos de comportamentos desde aqueles extremamente imóveis onde a pessoa é capaz de ficar na mesma posição por horas. Em outros casos há extrema agitação motora seguida ou não de fala acelerada e sem sentido. Tais comportamentos são responsáveis pelo afastamento repentino do trabalho e nas demais atividades que o indivíduo vinha realizando antes do aparecimento da doença ou do agravamento dos sintomas. 

Há estágios da doença onde a pessoa perde a percepção de higiene e cuidados de si mesma. Podendo ficar dias sem tomar banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, etc. O que requer de muitas famílias remanejamento das suas atividades e agendas. Fazendo com que sempre haja alguém responsável pela constante vigilância e cuidado do esquizofrênico dentro de casa.

Acredita-se no valor genético da esquizofrenia. Mas não se pode ignorar o impacto que o ambiente exerce sobre a pessoa acometida pela doença. Um ambiente acolhedor, pronto para manejar e assistir a pessoa na sua integralidade biopsicossocial tenderá a ser mais humanizado e gerador de estabilidade emocional a um ambiente que não oferece as mínimas condições de cuidado e segurança.

O tratamento é feito com medicamentos antipsicóticos a fim de estabilizar as crises. O que dependerá de visitas constantes ao psiquiatra para fazer uma reavaliação do funcionamento global da pessoa e do respectivo comportamento, o que será decisivo para o acompanhamento dos sintomas e será preditor de troca de medicamento, alteração na dosagem, etc.

A ciência não disponibiliza a cura para a esquizofrenia. Conta-se com o empenho de pesquisadores e indústria farmacêutica a fim de acelerar possíveis descobertas de novas drogas que permitam ao esquizofrênico resgatar a sua independência.

 O que observamos na atualidade, é que os medicamentos recentes permitem certo grau de autonomia dentro da comunidades de origem, com pessoas que conhecem o problema e estão aptos a dar suporte, se for necessário. A grande maioria dos esquizofrênicos têm que conviver com algum tipo de sintoma residual para a vida toda. 

Por Dani Souza
                                   
Entrevista no Programa Sem Censura
 Tema: Esquizofrenia- Ana Beatriz Barbosa 
        

02 junho, 2012

Gravidez Psicológica?


A gravidez psicológica (pseudogestação) de forma simplificada é uma fantasia delirante. Ou seja, a mulher está tão convicta da sua gravidez que o corpo começa a demonstrar sintomas idênticos aos de uma gravidez fisiológica (onde há a presença do feto).

 Incluindo modificação no comportamento como se realmente estivesse gestante. Porém, basta um simples exame ginecológico para comprovar que não há feto, portanto, não há gestação.

Mesmo diante de diagnóstico médico a mulher não se convence de que as sensações físicas sejam criações da sua mente e reflexo de um desejo que tem sua origens e motivações diversas. Tal quadro é mais comum em mulheres que já passaram por abortos espontâneos, ou aquelas que são "loucas" para engravidar e já tentaram várias vezes sem obter sucesso.

O poder da sugestão é tão grande e o desejo tão verdadeiro que o corpo começa a refletir mudanças físicas que se assemelham a uma gestação fisiológica. Ocorrem mudanças na pele, pode haver uma leve queda capilar, enjoos, desejos, retenção líquida, idas mais frequentes ao banheiro e crescimento dos seios e da barriga que na gravidez psicológica (sem a presença de tumor) há apenas tecido adiposo (gordura) devido ao aumento da ingestão de alimentos- como a mulher acredita que está grávida ela passa a ingerir o dobro de alimento que o de costume.

Para a família, entender a gravidez psicológica poderá ser difícil e algumas famílias tendem a achar que não passa de necessidade de chamar atenção, que a pessoa está fazendo de propósito. O que acaba gerando tratamentos hostis em relação a mulher acometida pelo problema. Como contornar a situação? Em tais casos é aconselhável que o companheiro (em principal) seguido da família adotem uma postura mais acolhedora, carinhosa e respeitosa com os anseios, os medos e as expectativas da mulher que verdadeiramente se percebe grávida e acredita veementemente na sua gestação.

É aconselhável que a família busque ajuda de um psicólogo. Porque a  mulher não irá procurar espontaneamente pelo mesmo, pois realmente se percebe grávida. Não se trata de uma mentira, a gravidez psicológica é vivida pela mulher como uma gravidez real. Há casos em que tais síndromes são desenvolvidas a partir de um quadro clínico real como: síndrome dos ovários policísticos; tumor; câncer ou alterações hormonais. Em tais casos recomenda-se acompanhamento psicológico seguido de tratamento médico.

 A duração do tratamento varia de caso para caso. O sucesso será determinado pelo tratamento adequando e apoio psicossocial que a mulher obtém dos familiares, companheiro e da equipe responsável pela condução do caso. Em uma sociedade/cultura, onde é divulgada a ideia de que a mulher só será feliz e realizada se tiver filhos, não poder tê-los, poderá ser sentido como um fracasso, uma incapacidade. Crenças que só serão revertidas pelo viés do amor e da compreensão do que "ter um bebê" representaria para aquela pessoa.

Por Dani Souza





                          Saúde da mulher- Gravidez Psicológica