15 agosto, 2012

Avaliação Psicológica para a Cirurgia Bariátrica?


 

A cirurgia bariátrica também conhecida como cirurgia de redução do estômago vem se popularizando cada vez mais devido aos benefícios que a sua realização poderá proporcionar aos indivíduos que têm obesidade mórbida (aquela que traz risco de vida ou à saúde).

Porém, toda mudança que virá de forma abrupta- como em uma intervenção cirúrgica, exige certo nível de re-adaptação cognitiva, emocional e física somados a uma "quebra" da rotina. Sendo assim, a Psicologia trabalha no espaço da prevenção e da educação visando o aumento da qualidade de vida. Além do acompanhamento dos processos biopsicossociais a que todo sujeito inserido em um contexto social se encontra rodeado.

Se submeter a uma cirurgia bariátrica poderá despertar ou potencializar algumas fantasias que já co-existam na psique do indivíduo. Podendo mobilizar defesas antes bem adaptadas e/ou desencadear um quadro de ansiedade generalizada, depressão, fobia, etc. Pois cada pessoa vivencia as expectativas de uma intervenção cirúrgica seja em qual órgão for de maneira e intensidade diferente, e tal processo é regido pela subjetividade, pela história de vida que é extremamente singular para cada pessoa.

E é nesse momento em que o suporte psicológico poderá fazer toda a diferença e minimizar os impactos da cirurgia vivenciados desde o pré-operatório e de fato constatados no pós-operatório. Uma vez que as ansiedades, as dúvidas, os medos, a exigência de mudar o estilo de vida, a necessidade de alterar o perfil alimentar, já foram discutidos com o indivíduo muito antes de o mesmo se submeter a tal processo cirúrgico.

A cirurgia (dependendo da técnica) poderá ser bem rápida. Mas a mesma rapidez não é constatada e muito menos vivenciada após a mesma. Ou seja, não é o ato em si que sozinho será responsável pela ruptura de velhos hábitos e padrões de comportamentos praticados antes do mesmo. Exemplo: Não se pode ingerir a mesma quantidade de alimento que a pessoa estava acostumada, manter o mesmo padrão sedentário e a cirurgia não será decisiva para "atrair" novos relacionamentos, não trará felicidade e não resolverá os problemas do dia a dia. 

Pois para que tudo isso ocorra na vida de qualquer pessoa- requer mudança de atitudes, ruptura de velhos hábitos, adoção de novos comportamentos e etc. Algumas pessoas costumam pensar que o processo cirúrgico por si só lhe trará um novo estilo de vida, em um estalar de dedos lhe dará uma nova vida, novos amigos, novos prazeres. Nada disso é dado, tudo isso é conquistado de acordo com as necessidades e expectativas de cada um de nós depositados em nossa rede social seja trabalho, família, amigos, relacionamentos, etc.

Não há nada disso garantido após a cirurgia. Ela não faz milagres e  tudo o que for além de disciplina, reeducação alimentar, mudança de hábitos, engajamento em atividades físicas será mera ilusão e poderá comprometer todo o processo pós cirúrgico. Daí a necessidade de submeter o indivíduo a uma avaliação psicológica que como muitas pessoas pensam não tem o objetivo de suspender a cirurgia mas sim de certificar de quais são as reais condições psicológicas que o indivíduo vem apresentando antes da cirurgia.

Lembrando que, na possibilidade de o psicólogo detectar alguma psicopatologia grave, a exemplo dos transtornos da alimentação, comportamentos suicidas, comprometimentos intelectuais a ponto da pessoa não entender o que será feito com ela. A cirurgia poderá ser suspensa. Pois é de extrema importância que haja pleno entendimento e colaboração do paciente para se obter bons resultados no pós operatório. 


Por Dani Souza



2 comentários:

  1. Creio ser imprescindível acompanhamento psicológico desde antes da cirurgia, porque mudar hábitos alimentares não é fácil. Exige todo um processo e um suporte, pois nem todos conseguem abdicar do prazer que a comida em excesso proporciona. Há quem compare comida com droga e não são todos que suportam abdicar desse prazer em demasia. Conheci muitos que se submeteram a cirurgia e que em questão de tempo ganharam uma parcela considerável do peso perdido, levando em consideração a ânsia em atingir uma meta de modo imediatista e esquecendo que para algo assim, um preparo é necessário. Além do mais, como há um IMC estimado para que se processe a cirurgia, pessoas ganham peso deliberadamente para que possam se submeter a tal.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Sweet,

      É exatamente assim que acontece. É uma faca de dois gumes. Em uma ponta a cirurgia beneficia e colabora para reforçar e enfatizar o desejo que a pessoa tem de mudança.

      De outro lado passa a ser apenas um ato "mágico" como se a pessoa não conseguisse de fato se engajar e comprometer com as mudanças que seriam exigidas para se obter sucesso após o procedimento- que foram tão "exaustivamente" trabalhadas na terapia.

      A pessoa tende a atribuir o insucesso do processo sobre a equipe médica, sobre as condições de vida, mas nunca ou quase nunca pela sua falta de vontade e pouco comprometimento que adotava no pós-operatório.

      Mas o humano é um ser das controvérsias, é um ser dos desejos, do inconsciente. E a comida é um elo, um mecanismo de fuga, uma bengala para muitos males da alma. Ao mesmo tempo que a comida conforta, causa desalento e quem não "passear" bem por esses extremos manterá uma relação desajustada com a mesma não é mesmo? Abração a ti e até mais ver!!!!

      Excluir