03 novembro, 2012

O TDAH e os medicamentos estimulantes- Parte II



De posse da escuta dos pais, do retorno do colégio e do auto-relato da própria pessoa envolvida na questão, percebe-se que através da observação direta e indireta do comportamento nota-se que os efeitos dos medicamentos estimulantes sobre o comportamento implicam no aumento da atenção, na redução da impulsividade e um maior controle sobre a atividade motora.

Do ponto de vista dos pais e familiares mais próximos à criança e/ou adolescente afirmam que os mesmos tendem a ter maior facilidade em manter um comportamento mais organizado (em termos de agitação) e há um maior poder de tolerância contra eventos antes percebidos como frustrantes- como ouvir um não, por exemplo.

Do ponto de vista do colégio, os estudantes mostram-se mais propensos a completar seus trabalhos escolares com maior assertividade, mostram-se mais tolerantes, obedientes em relação às regras e atividades propostas em ambiente de sala de aula. Relatam observar uma significativa diminuição dos comportamentos agressivos.

Do ponto de vista do adolescente / adulto, o discurso aponta para o reconhecimento das melhorias comportamentais citadas acima. Mas com um diferencial- a percepção de efeitos colaterais. Sendo os frequentemente relatados (insônia e/ou redução do apetite).

Às vezes, observa-se que, na maior parte dos casos os efeitos sobre o sono e o apetite se apresentam de forma leve e não se exige e nem é recomendado a interrupção do tratamento.

O que se faz digno de nota no tratamento medicamentoso é que há "altos e baixos" no comportamento da pessoa. Visto que a vida útil do medicamento no organismo é estimado em cerca de 3 a 4 horas após a ingestão. Período no qual são observadas as melhorias comportamentais citadas acima.

Findo o período, observa-se que o comportamento global da pessoa volta a atingir índices "normais" observados antes da administração do medicamento. Ou seja, retornam-se os sintomas da mesma forma e intensidade como sempre se apresentaram.

É justamente nesse momento em que a Psicoterapia tem a sua parcela de contribuição no manejo do TDAH. Quando se apresenta uma estagnação do comportamento observado mesmo com a utilização do medicamento. 

 Não raro os pais, educadores, profissionais da saúde e a própria pessoa começam a observar algum nível de sofrimento psíquico oriundos de outras questões como- Ansiedade de Separação, Fobias; Drogadição, dentre outros. Tudo isso atravessando a vida profissional, acadêmica e pessoal do indivíduo em questão trazendo problemas e impedimentos diversos.

O tratamento Psicoterápico compreende em ensinar estratégias comportamentais aos pais, ao colégio e à própria pessoa, para controlar aspectos negativos do comportamento que geralmente impactariam negativamente na vida do sujeito afetando a sua vida de uma forma global.

Portanto, faz-se necessário frisar que o TDAH é um Transtorno Psiquiátrico reconhecido como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Psiquiátrica Americana(APA). Qualquer outra associação é mera enganação e/ou desconhecimento da fonte vinculadora da informação. 

Por Dani Souza

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Em resposta à solicitação do seguidor do blog, Victor. Espero que o post tenha esclarecido algumas de suas dúvidas. Caso não tenha esclarecido coloco-me à disposição para futuros esclarecimentos a respeito do mesmo.

02 novembro, 2012

O TDAH e os medicamentos estimulantes- Parte I



O objetivo do presente post não é o de explicar o TDAH (Já fora feito em outros posts). Portanto, o objetivo principal é o de apresentar os medicamentos mais prescritos e utilizados no tratamento do TDAH em suas principais manifestações- TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/ impulsividade e o TDAH combinado.

Ressalto e destaco a importância de que esse post seja destinado somente à informação, não tendo, portanto, nenhuma pretensão de estender-se para outros fins. Vale lembrar que para maiores informações é prudente buscar por ajuda profissional para conduzir o diagnóstico e estabelecer o plano de tratamento de acordo com cada caso.

Atualmente,  a literatura nos aponta que o manejo clínico do TDAH que se mostra mais assertivo é o tratamento pautado no respectivo tripé- Psicoeducação (informação sobre o transtorno); Psicoterapia e medicação. No quesito medicamento, tal área foge à minha competência e extrapola a minha formação.

Portanto, os dados apresentados abaixo são oriundos da observação clínica, da escuta dos pais, do intercâmbio com o colégio e da experiência obtida na prática com as pessoas que buscam auxílio psicoterápico para entender os sintomas do TDAH e outros Transtornos que coexistem com o mesmo, a citar: Transtorno de Conduta, Depressão, Transtorno Oposicional Desafiante, Transtorno de Ansiedade, dentre outros.

Observa-se, portanto, que os medicamentos mais prescritos, estudados e tidos como eficientes no suporte medicamentoso aos sintomas do TDAH incluem os medicamentos que são estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC). 

No mercado brasileiro citamos Metadate, Ritalina e Concerta (todos os três com princípio ativo- Metilfenidato (MPH). Não estenderei a explanação para fármacos como Dexedrine (dextroanfetamina); Aderall (anfetamina mista) e outros, por não ser atribuição do Psicólogo. Sendo tal quesito restrito à indicação e prescrição médica.

Entretanto, o metilfenidato torna-se o medicamento mais prescrito. Como um estimulante do SNC melhora significativamente o nível de atenção e possibilita um controle maior sobre o  comportamento. O que contribui positivamente para facilitar a permanência em ambiente de aprendizagem.

Na segunda parte desse post veremos como os pais, os educadores e a própria pessoa analisam os efeitos dos medicamentos sobre o comportamento global da pessoa medicada.

 Por Dani Souza

21 outubro, 2012

Ansiedade no Pós-Operatório



A ansiedade por uma questão biológica sempre acompanhou o ser humano ao longo da sua jornada. O que se apresenta de novo na atualidade, são as descobertas que englobam o manejo dos tipos e efeitos da ansiedade sobre a díade (mente-corpo).

Entende-se, portanto, que todo ser humano possui um potencial ansioso de caráter fisiológico que atribui o sentimento de (medo) inerente à todos os tipos e subtipos de ansiedade.

É exatamente neste momento em que o Psicólogo deverá ser capaz de diferenciar causas orgânicas das causas funcionais, pois algumas causas orgânicas podem ser facilmente confundidas com Transtornos Psiquiátricos.

 Em uma avaliação apressada, por exemplo, seria facilmente compreensível que  uma agitação motora fosse interpretada como sinônimo de ansiedade. Há uma ligação lógica mas nem portanto verídica em 100% dos casos.

O hospital, por si só, é um ambiente cujo significado já se encontra "internalizado" por cada um de nós, uma vez que representa um ambiente de dor/sofrimento, perda da autonomia sobre si mesmo e sobre o seu corpo, etc. 

Frente a estas questões tão importante quanto o acompanhamento psicológico no pré-cirúrgico igualmente importante se faz o mesmo no pós-cirúrgico. Uma vez que somos seres dinâmicos e a percepção real do corpo (agora visível, sentido e percebido) como "cortado", "costurado" e "violado" poderá desencadear um turbilhão de emoções que se não forem acompanhadas por um psicólogo poderão cruzar a linha tênue que separa o normal do patológico.
 
E neste campo temos a dimensão multifacetada de vários transtornos que podem existir e/ou coexistir dentro de uma estrutura "saudável" de personalidade que só precisava de um "gatilho" para desencadeá-los como: Transtornos da Alimentação, Transtornos do Humor, Transtornos da Ansiedade e  para encurtar a lista- Transtornos Somatoformes.

Se atualmente você  está passando por uma fase de recuperação pós-cirúrgica ou acompanha um ente querido ou conhecido neste momento de sua vida e percebe que o mesmo vem tendo episódios de oscilação do humor e/ou comportamento como um todo, solicite ajuda do setor de Psicologia em que fora realizada a cirurgia, ou peça um encaminhamento para o setor mais próximo à sua residência. 

Ou se for o caso, há a possibilidade de  contar com os serviços de visita domiciliar conhecido como Home Care. O que importa é dar a devida atenção ao caso que muitas vezes é percebido pela família como "frescura" ou "necessidade de chamar a atenção". Quando na verdade, nada mais é do que um caso real de adaptação que inspira cuidados de um profissional treinado para tal fim. 

Por Dani Souza

16 outubro, 2012

Onicofagia- Um hábito compulsivo!

Em linhas gerais e para facilitar o entendimento, a onicofagia se enquadra dentro de um subtipo do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Seu curso mascara vários estados emocionais, sua origem é desconhecida. 

Porém, na prática clínica, observa-se tal comportamento acompanhando quadros de ansiedade, baixa auto-estima, estresse, síndrome de burnout, etc. 

Vale ressaltar que "roer" as unhas não é condição primeira para traçar nenhum diagnóstico, é apenas um indício, um sinalizador de que há algo desencadeando e mantendo um quadro ansiogênico no atual momento de vida do indivíduo. 

Tal hábito poderá impactar negativamente em situações como relacionamentos interpessoais em ambientes de trabalho, na auto-estima como citada anteriormente e que faz com que o indivíduo desenvolva estratégias comportamentais a fim de esconder o fato, como: manter as mãos constantemente dentro dos bolsos, sentar sobre as mesmas, manter os braços cruzados com as pontas dos dedos voltadas para dentro, dentre outros.

A Psicoterapia poderá ser útil na detecção do comportamento mantenedor do hábito de roer as unhas e na busca de uma reversão de hábito, na tentativa de substituir o ato de roer por outro hábito mais assertivo. Há casos em que a ansiedade encontra-se tão "arraigada" no comportamento global do indivíduo que estratégias como mascar chicletes quando sentir o impulso de levar  a mão à boca é de extrema utilidade para romper com o comportamento automático de roer as unhas. 

Há indicações de manter as unhas bem lixadas para aparar possíveis "cantos de unha" que se tornam irresistíveis para quem não exita em puxá-las, e de repente, foi-se cantinho, unha, cutícula e abre-se uma canal para infecções e hipersensibilidade local ao toque com produtos químicos, água e no contato direto com objetos. Indica-se fazer as unhas e utilizar bases fortalecedoras que contenham substâncias inibidoras devido ao gosto ruim.

Na grande maioria dos casos observa-se uma remissão espontânea do hábito de roer as unhas quando o indivíduo atinge 18 anos de idade, se tal comportamento foi adquirido desde a infância. Porém, se não foi observado tal critério, tal comportamento poderá se estender na vida adulta podendo causar sofrimento psíquico na pessoa que tende a interpretar tal comportamento como algo que não poderá ser mudado devido às várias tentativas frustradas experimentadas ao longo da vida.

 Condição que poderá ter reforçado no mesmo a sua incapacidade e impotência diante de tal comportamento. Você quer se libertar da onicofagia e não consegue ou já seguiu todas as indicações acima? Busque ajuda de um Psicólogo para te ajudar a entender o que está por trás do hábito de "atacar as unhas" e volte  a se sentir seguro, feliz e capaz de gerenciar a sua vida, sem medo, sem vergonha, sem precisar esconder as mãos.

 Por Dani Souza

11 setembro, 2012

Fibromialgia- quando a dor é crônica


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A clínica psicológica tem aprendido muito sobre o manejo do acompanhamento psicológico com pessoas que são diagnosticadas com fibromialgia. O termo fibromialgia refere-se a uma condição clínica que leva o corpo a responder de forma dolorosa a estímulos generalizados de dor, porém, a percepção desta dor é interpretada pelo cérebro de forma a intensificar os estímulos dolorosos fazendo com que os mesmos sejam sentidos de forma crônica e difusa. Não raro, as pessoas chegam ao consultório dizendo: "É uma dor que anda pelo corpo todo".

Como a dor se expressa de forma generalizada e crônica, a mesma é denominada de síndrome porque engloba uma série de manifestações clínicas onde observa-se a presença da dor, fadiga, insatisfação, depressão, ansiedade, alterações do sono, etc. Alguns pontos de dor da fibromialgia são: a cabeça, as costas, a região lombar, pernas e braços. É comum observar que a dor não segue um roteiro fixo. Ora ela se apresenta em uma parte, em determinado momento do dia em outra área, fazendo com que a percepção do indivíduo seja a de que ela (a dor)  "caminha pelo corpo".

É muito importante que os profissionais da saúde estejam preparados para facilitar o diagnóstico da fibromialgia através de uma boa entrevista clínica, da análise dos pontos de dor e da presença da mesma por no mínimo três meses consecutivos. Caso contrário, o indivíduo vivencia uma espécie de "peregrinação"  chegando a ir em vários médicos, realizando vários exames e permanecendo com a angustiante constatação de que não há nenhuma alteração nos exames que justifique um diagnóstico.

Ao psicólogo a mesma preocupação também é válida, uma vez que, a fibromialgia leva a um quadro real de dor física que embora se expresse de forma generalizada, ainda assim a mesma é real. E é crucial que o profissional não caia na "tentação" de apressadamente rotular o indivíduo como poliqueixoso, somatizador, dependente, histérico, etc. Já que é de conhecimento de todos que lidam com tais questões que a fibromialgia impacta diretamente na qualidade de vida do indivíduo, no seu desempenho social, profissional e acadêmico. Fazendo com que muitas pessoas rompam abruptamente com suas responsabilidades e compromissos por não suportarem mais as dores.

O manejo da fibromialgia para ser considerado eficiente e não apenas paliativo deve passar por uma abordagem e acompanhamento multiprofissional que oferte ao indivíduo a possibilidade de contar com um programa de exercícios físicos, sessões de fisioterapia, nutricionista, tratamento medicamentoso e abordagem psicoterápica para manejar as questões de ordem psíquica como a ansiedade e a depressão que parecem co-existir com a síndrome. 

Fora o exposto acima é importante que a pessoa diagnosticada com fibromialgia não sinta tal condição como demarcadora entre a felicidade e a infelicidade. Mas aceitar tal quadro com suas possibilidades e limites. Por mais angustiante que possa ser a ideia de conviver com algo crônico, mais fantástico ainda é descobrir o quanto o organismo como um todo luta para a sua adaptação e para que a mente desenvolva novas formas de "enxergar" o mesmo estímulo- a dor. 


Por Dani Souza

15 agosto, 2012

Avaliação Psicológica para a Cirurgia Bariátrica?


 

A cirurgia bariátrica também conhecida como cirurgia de redução do estômago vem se popularizando cada vez mais devido aos benefícios que a sua realização poderá proporcionar aos indivíduos que têm obesidade mórbida (aquela que traz risco de vida ou à saúde).

Porém, toda mudança que virá de forma abrupta- como em uma intervenção cirúrgica, exige certo nível de re-adaptação cognitiva, emocional e física somados a uma "quebra" da rotina. Sendo assim, a Psicologia trabalha no espaço da prevenção e da educação visando o aumento da qualidade de vida. Além do acompanhamento dos processos biopsicossociais a que todo sujeito inserido em um contexto social se encontra rodeado.

Se submeter a uma cirurgia bariátrica poderá despertar ou potencializar algumas fantasias que já co-existam na psique do indivíduo. Podendo mobilizar defesas antes bem adaptadas e/ou desencadear um quadro de ansiedade generalizada, depressão, fobia, etc. Pois cada pessoa vivencia as expectativas de uma intervenção cirúrgica seja em qual órgão for de maneira e intensidade diferente, e tal processo é regido pela subjetividade, pela história de vida que é extremamente singular para cada pessoa.

E é nesse momento em que o suporte psicológico poderá fazer toda a diferença e minimizar os impactos da cirurgia vivenciados desde o pré-operatório e de fato constatados no pós-operatório. Uma vez que as ansiedades, as dúvidas, os medos, a exigência de mudar o estilo de vida, a necessidade de alterar o perfil alimentar, já foram discutidos com o indivíduo muito antes de o mesmo se submeter a tal processo cirúrgico.

A cirurgia (dependendo da técnica) poderá ser bem rápida. Mas a mesma rapidez não é constatada e muito menos vivenciada após a mesma. Ou seja, não é o ato em si que sozinho será responsável pela ruptura de velhos hábitos e padrões de comportamentos praticados antes do mesmo. Exemplo: Não se pode ingerir a mesma quantidade de alimento que a pessoa estava acostumada, manter o mesmo padrão sedentário e a cirurgia não será decisiva para "atrair" novos relacionamentos, não trará felicidade e não resolverá os problemas do dia a dia. 

Pois para que tudo isso ocorra na vida de qualquer pessoa- requer mudança de atitudes, ruptura de velhos hábitos, adoção de novos comportamentos e etc. Algumas pessoas costumam pensar que o processo cirúrgico por si só lhe trará um novo estilo de vida, em um estalar de dedos lhe dará uma nova vida, novos amigos, novos prazeres. Nada disso é dado, tudo isso é conquistado de acordo com as necessidades e expectativas de cada um de nós depositados em nossa rede social seja trabalho, família, amigos, relacionamentos, etc.

Não há nada disso garantido após a cirurgia. Ela não faz milagres e  tudo o que for além de disciplina, reeducação alimentar, mudança de hábitos, engajamento em atividades físicas será mera ilusão e poderá comprometer todo o processo pós cirúrgico. Daí a necessidade de submeter o indivíduo a uma avaliação psicológica que como muitas pessoas pensam não tem o objetivo de suspender a cirurgia mas sim de certificar de quais são as reais condições psicológicas que o indivíduo vem apresentando antes da cirurgia.

Lembrando que, na possibilidade de o psicólogo detectar alguma psicopatologia grave, a exemplo dos transtornos da alimentação, comportamentos suicidas, comprometimentos intelectuais a ponto da pessoa não entender o que será feito com ela. A cirurgia poderá ser suspensa. Pois é de extrema importância que haja pleno entendimento e colaboração do paciente para se obter bons resultados no pós operatório. 


Por Dani Souza



09 julho, 2012

Por que a psicopatia assusta tanto?



Em um dos episódios do CSI Las Vegas, sétima temporada- intitulado Boneca Viva. A identidade da psicopata serial Natalie Davis é revelada. Seus crimes chocavam pelo requinte de detalhes, premeditação, paciência e a frieza com a qual os estudava; chegando a recriá-los em miniaturas para depois executá-los na íntegra conforme havia planejado nas miniaturas que pacientemente moldava e montava no seu protótipo da cena do crime.

O que mais surpreende, é que a "angelical" Natalie, sempre esteve presente dentro do laboratório de criminalística, estando totalmente "por dentro" de todas as medidas e linhas de investigação que tomava o próprio caso. O que mais causa espanto, é a constatação de que os psicopatas estão entre nós. E a certeza de que tal desvio comportamental não é raro, acomete um número significativo de pessoas e para piorar ainda mais a situação- o que nos difere de um psicopata é a nossa capacidade de sentir empatia pelo outro (se colocar no lugar do outro), as qualidades dos vínculos afetivos que mantemos com o mundo à nossa volta ao longo da nossa história de vida.

Em linhas gerais, o psicopata é aquela pessoa que em algum momento da vida apresentou uma falha no seu desenvolvimento moral, ético e principalmente, em sua consciência- que na psicopatia está sempre comprometida ao ponto de não conseguir separar os prós e contras das suas atitudes tanto em relação aos outros quanto em relação a si mesmo. Em seu comportamento não há culpa e suas ações são negligentes no que tange às regras sociais. Por tais motivos que se qualificam esses comportamentos como uma "deficiência significativa de empatia."

Talvez você esteja pensando: "Então é super fácil identificar um psicopata?" Sinto em informar mas, se ficou tal sensação com a respectiva leitura do parágrafo anterior tal sensação não é verdadeira. Pois os psicopatas são verdadeiros atores da vida real. Seus comportamentos são tão articulados e calculados que passam boa parte da vida "infiltrados" no seio da sociedade.

Alguns casam, têm filhos, se formam e levam uma vida rotineiramente normal, etc. Mas se o seu comportamento em algum momento da vida se alterar (reverter em condutas criminosas) seja por algum motivo vindo de um agente psico estressor - como perda de um emprego, perda de status, profundo sentimento de raiva, vingança, inveja, ciúmes, etc. Tal pessoa poderá como muitos dizem "de uma hora pra outra" se tornar um assassino com perfil meticuloso, premeditado, paciente e extremamente sagaz.

O que quase ninguém vincula na mídia quando apresenta os "psicopatas nossos de cada dia" é que tal traço de comportamento já estava presente no indivíduo durante toda a sua formação e que em algum momento se tornou notório. Seja no colégio, em casa, no trabalho, e que não houve a devida investigação do mesmo fazendo com que tal conduta fosse "esquecida" no meio do repertório de comportamentos da pessoa. Mas se ela se sentir "sem saída" poderá recorrer aos mesmos.

A psicopatia é um tema de extrema relevância dentro da psicologia forense, já que os psicopatas quase sempre se inclinam para ações criminosas. Os indivíduos que assim procedem preenchem o mesmo "esqueleto" de padrão comportamental: não sentem culpa, remorso, não apresentam nenhum grau de sensibilidade com a dor alheia (tanto de ordem física e/ou psíquica). E são incapazes de se colocar no lugar do outro. 

Mas estão em todas as camadas sociais. São homens, mulheres e crianças que em uma situação rotineira, cotidiana e sob a análise de um olhar apressado não passam de pessoas "normais" que circulam entre nós todos os dias, em todos os lugares, em todos os eventos. Até o dia em que podem ou não levantar algum tipo de suspeita.

Talvez você possa estar novamente se perguntando: "Mas tem cura?" A resposta está em meio ao nosso sistema judicial- solte um psicopata e espere o momento e a oportunidade para que ele cometa os mesmos crimes, com a mesma frieza e, muitas vezes por motivações tão "tolas" que nunca justificariam aquela conduta tão cheia de ira. 

Mais cedo ou mais tarde eles sempre retornam às grades, sempre com o mesmo histórico de agressões, mortes, tragédias, etc. Não há nenhum psicopata na história policial que fora preso por excesso de amor, bondade e que constrangesse o outro por seu comportamento gentil, doce e cordial. São todos quando (inclinados a uma vida de crimes)- criminosos em potencial, feras com feições humanas- monstros que aprenderam a falar e a imitar o comportamento social vigente na sua cultura. Mas mesmo agindo assim são incapazes de entender, decodificar e quantificar as emoções humanas. Pois em suas mentes as mesmas não passam de um mero conjunto de definições. E definições não têm vida...

Por Dani Souza 

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(nota) O presente texto não tem embasamento científico, nem parâmetros baseados em pesquisas que validem a utilização do mesmo para reforçar possíveis teses em casos de estudantes de advocacia que estejam em fase de confecção de TCC. A autora não goza de titulação na área forense.




                    Psicopatas - Amaury Jr. Show - Ana Beatriz Silva


03 julho, 2012

Por que é tão difícil parar de fumar?



A nicotina é conhecida como uma substância ativa do tabaco. Enquanto fármaco sua aplicação é no auxílio do tratamento da suspensão do cigarro quando a mesma é utilizada na forma de gomas de mascar e adesivos. A nicotina é estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC). 

Quando associada ao alcatrão e ao monóxido de carbono (químicas adicionadas ao cigarro). A nicotina tem o seu poder de ação potencializada e representa fator de risco para as pessoas que têm problemas cardíacos e/ou pulmonares, alguns tipos de tumores e tantas outras doenças que são agravadas pelo uso contínuo do cigarro.

Uma das maiores dificuldades encontradas na extinção do comportamento de fumar, encontra-se justamente na ruptura abrupta que muitas pessoas se submetem (sem ajuda profissional) entre o hábito (fumar é um ritual de trejeitos e comportamentos) e a rotina (o cigarro se enquadra dentro do contexto diário da pessoa). 

A suspensão abrupta, está associada aos casos de recaída e de insucesso na luta contra o cigarro, uma vez que há uma dependência que além de física se estende para a psíquica. Pois é comum que os fumantes lembrem com mais frequencia do cigarro nas pequenas pausas para descansar, antes ou depois do café, ou o acedam simplesmente para relaxar- nos momentos em que há maior ansiedade e estresse.

Romper com tais hábitos e comportamentos é que será, em boa parte, decisivo para o sucesso do tratamento. A maneira mais rápida, eficiente e que produz baixo índice de recaída, é a associação entre psicoterapia acrescido do tratamento farmacológico.

As gomas de mascar, os adesivos para colar na pele têm nicotina e mostram-se eficazes para reduzir os sintomas da retirada abrupta do cigarro: insônia, dificuldades de concentração, dor de cabeça, irritação e ansiedade. Por tais motivos é que a dependência física/psíquica desenvolvida pela nicotina é considerada grave e se instala rapidamente tornando a sua retirada tão complicada, dolorosa e com impactos diversos sobre a saúde global do indivíduo.

Se você está tentando parar de fumar saiba que a caminhada não será fácil. A prática clínica nos mostra que tal processo quando encarado sozinho tende a ser causador de ansiedade, contribui para o aumento da baixa estima por si mesmo e desperta sensações de incapacidade de gerenciar a própria vida. Uma vez que as pessoas tendem a se sentir "controladas pelo cigarro."

Só você pode romper com este ciclo vicioso entre a culpa por fumar e o desejo de parar. Busque ajuda de um profissional da área médica, procure por ajuda psicológica e se dê uma chance para desta vez trilhar o caminho mais assertivo na luta contra o tabagismo. Você não está sozinho(a) nesta luta, há várias políticas públicas em prol da sua causa. Esteja preparado para vencer e retomar as rédias da sua vida, sucesso na sua caminhada. 


Por Dani Souza



Espaço Documentário- 
Tabagismo (2012)
                                  

30 junho, 2012

O TDAH e a Ritalina



O Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade- TDAH, é um transtorno neurológico. Ou seja, não depende da vontade da pessoa, não é um comportamento intencional, não é manha como muitas pessoas afirmam e não passa pelo necessidade de chamar atenção- como muitos pais e alguns educadores costumam pensar.

Embora o mesmo venha sendo divulgado com relativa notoriedade pela mídia e sendo absurdamente aceito e validado apenas por uma breve consulta nos manuais diagnósticos como DSM-IV, por exemplo. Acho prudente frisar que sintomas por si só não determinam uma patologia e não a validam somente por preencher um número satisfatório de condições que são coletadas individualmente. É preciso que o indivíduo seja entendido, analisado e "interpretado" mediante a observação de como o mesmo se comporta em vários ambientes que o mesmo frequenta. Como pontua Bastos(2000)


"O entrevistador deve sempre ter em mente que uma doença não é um mero conjunto de sinais e sintomas, mas sim uma falha, um bloqueio ou um impedimento do funcionamento normal ou ideal do organismo, geralmente numa tentativa de refazer, repor, reparar, ou restituir o equilíbrio perdido. As doenças não caem do céu como maldições imprevisíveis, mas têm cada uma, a sua história natural, desde uma simples unha encravada até a AIDS, a tuberculose ou a esquizofrenia. Os sintomas não surgem isoladamente, ao acaso." (Bastos, 2000, p,78)

No caso do TDAH, é interessante averiguar se o mesmo se expressa em casa, no colégio e se faz parte de um comportamento que se faz presente em boa parte das ações cotidianas da pessoa a ser avaliada. É preciso entender a dinâmica que rege o funcionamento global da pessoa. 

Se criança, há que se ter mais cuidado ainda porque faz parte da infância estar em constante transformação e reformulação física-cognitiva-afetiva. E neste cenário é esperado, é normal que determinados comportamentos sejam interpretados superficialmente como patológicos e lá vamos nós legitimando a era da Ritalina.

A Ritalina, é o medicamento mais comum e amplamente usado no Brasil- por se tratar de uma droga considerada de "perfil seguro." Seus efeitos no organismo asseguram uma supressão temporária  dos comportamentos observados no TDAH. Passado o seu efeito os sintomas retornarão. A literatura clínica nos aponta que não é interessante que no manejo do TDAH, a abordagem escolhida seja unicamente medicamentosa, ou só psicoterápica.

O ideal é combinar o aspecto psicoeducativo associado se for o caso ao medicamento.  É "ensinar" estratégias de enfrentamento aos pais, aos educadores e fazer do medicamento, quando estritamente necessário, um auxílio. Lembrando que, o medicamento por si só, nada ensina sobre o sofrimento, impactos sofridos, estigmas, etc que a pessoa acometida pelo transtorno venha enfrentando no seu dia a dia.

Faz-se necessário ressaltar que há um número relativamente grande e cada vez maior de crianças que apresentam alguns traços de comportamentos que se assemelham ao TDAH. Mas, não raro, não preenchem critérios diagnósticos suficientes para ser enquadrados em nenhuma síndrome ou transtorno. 

Atenção pais, educadores e sociedade civil. Não legitimem mais essa "onda" de validar uma única opinião profissional. Use de bom senso, sensibilidade e principalmente de respeito. Ser criança é incomodar, é bagunçar é fazer barulho, etc.

Nós adultos é que estamos cada vez mais impacientes, intolerantes e insensíveis ao universo infantil e aos seus dramas, às suas crises que mais nos exigem carinho e entendimento que medicamentos! Afinal, quem de nós, quando criança hoje, não teria um TDAH facilmente? 

Por Dani Souza

09 junho, 2012

Quando os adultos são adultescentes!




                      


A parte mais difícil em se responsabilizar pela vida, pelas escolhas e principalmente pelo desfecho que a própria vida "tomou" reside na questão de não aceitarmos as consequências dos nossos atos. Culturalmente, o brasileiro adora esperar por dias melhores, acreditar em um futuro melhor - mesmo que se encontre em uma profunda inércia, mesmo que não faça a sua parte, ele acredita em um milagre, sem se implicar no processo. 


Em um mundo onde as opções são diversas e as escolhas não refletem mais uma análise lógica e sim uma análise impulsiva, se decepcionar consigo mesmo e não aceitar a sua cota de culpa no processo tem se mostrado um movimento cada vez mais presente na dinâmica do comportamento global das pessoas que assim procedem.

O que mais chama a atenção neste movimento, é a geração de adultescentes que cresce assustadoramente. Há um número significativo de pessoas na "casa" dos 30 e 40 anos completamente infantilizados, irresponsáveis e sem a mínima condição de entender o ciclo de ação-reação que envolvem as suas próprias escolhas.

Atenção para uma constatação: Não há escolha neutra, toda escolha implica em ganhos e perdas. O esquivar-se, o não escolher já é uma escolha. E se você fez as contas e percebeu que perdeu mais que ganhou ao longo da vida, cabe a você refazer, repensar e replanejar a sua trajetória revisando as ferramentas e instrumentos que tem usado até agora para auxiliar nesse processo (mecanismos de defesa, padrões estereotipados de comportamento, ganhos secundários, etc).

Há muito no social de reforçador para tais atos. Não se implicar, não se responsabilizar pelos seus atos e consequentemente pelo desfecho dos mesmos tem muito a ver com o momento social de total permissividade que estamos enfrentando nas relações humanas. Se tudo é permitido, o balizador e normalizador do comportamento social passa ser o próprio indivíduo que decide o que deve ou não fazer, criando suas próprias regras e leis em uma espécie de "moral paralela."

A geração dos adultescentes conta com facilitadores dentro do próprio lar que, são pessoas que estão sempre encobrindo suas ações falhas, impulsivas, irresponsáveis e em alguns casos explosivas. E o pior, se responsabilizam pelos seus atos- extraindo de suas ações o fator aprendizado e culpabilizador- mecanismos tão necessários a uma reestruturação cognitiva. 

Se você não "paga o preço" pelo seu erro, não há aprendizado e a tendência é repetir em uma situação futura o mesmo comportamento. Os adultescentes de hoje são reflexos de uma criança que no passado não foi frustrada, contrariada e não aprendeu a ter limites. Como dar limites agora? Quem vai dar os limites? Basta somente pagar por terapia? Já dizia a minha avó:"Quando a vida não ensina pelo amor, ela ensina pela dor!" 




Por Dani Souza 




04 junho, 2012

Entendendo a Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença crônica e incapacitante que afeta a população mundial. Independe de classe social, gênero e idade. Tem como fator preditivo de sucesso o diagnóstico precoce. Quanto antes for diagnosticado maiores as chances de sucesso no tratamento.

O esquizofrênico pode escutar vozes e acreditar que pessoas estejam controlando os seus pensamentos ou fazendo conspirações contra ele. Tais vivências tendem a ser aterrorizantes e frente ao seu conteúdo podem causar medo, afastamento ou como é comum em alguns casos - agitação extrema.

Tais pessoas podem ter diversos tipos de comportamentos desde aqueles extremamente imóveis onde a pessoa é capaz de ficar na mesma posição por horas. Em outros casos há extrema agitação motora seguida ou não de fala acelerada e sem sentido. Tais comportamentos são responsáveis pelo afastamento repentino do trabalho e nas demais atividades que o indivíduo vinha realizando antes do aparecimento da doença ou do agravamento dos sintomas. 

Há estágios da doença onde a pessoa perde a percepção de higiene e cuidados de si mesma. Podendo ficar dias sem tomar banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, etc. O que requer de muitas famílias remanejamento das suas atividades e agendas. Fazendo com que sempre haja alguém responsável pela constante vigilância e cuidado do esquizofrênico dentro de casa.

Acredita-se no valor genético da esquizofrenia. Mas não se pode ignorar o impacto que o ambiente exerce sobre a pessoa acometida pela doença. Um ambiente acolhedor, pronto para manejar e assistir a pessoa na sua integralidade biopsicossocial tenderá a ser mais humanizado e gerador de estabilidade emocional a um ambiente que não oferece as mínimas condições de cuidado e segurança.

O tratamento é feito com medicamentos antipsicóticos a fim de estabilizar as crises. O que dependerá de visitas constantes ao psiquiatra para fazer uma reavaliação do funcionamento global da pessoa e do respectivo comportamento, o que será decisivo para o acompanhamento dos sintomas e será preditor de troca de medicamento, alteração na dosagem, etc.

A ciência não disponibiliza a cura para a esquizofrenia. Conta-se com o empenho de pesquisadores e indústria farmacêutica a fim de acelerar possíveis descobertas de novas drogas que permitam ao esquizofrênico resgatar a sua independência.

 O que observamos na atualidade, é que os medicamentos recentes permitem certo grau de autonomia dentro da comunidades de origem, com pessoas que conhecem o problema e estão aptos a dar suporte, se for necessário. A grande maioria dos esquizofrênicos têm que conviver com algum tipo de sintoma residual para a vida toda. 

Por Dani Souza
                                   
Entrevista no Programa Sem Censura
 Tema: Esquizofrenia- Ana Beatriz Barbosa 
        

02 junho, 2012

Gravidez Psicológica?


A gravidez psicológica (pseudogestação) de forma simplificada é uma fantasia delirante. Ou seja, a mulher está tão convicta da sua gravidez que o corpo começa a demonstrar sintomas idênticos aos de uma gravidez fisiológica (onde há a presença do feto).

 Incluindo modificação no comportamento como se realmente estivesse gestante. Porém, basta um simples exame ginecológico para comprovar que não há feto, portanto, não há gestação.

Mesmo diante de diagnóstico médico a mulher não se convence de que as sensações físicas sejam criações da sua mente e reflexo de um desejo que tem sua origens e motivações diversas. Tal quadro é mais comum em mulheres que já passaram por abortos espontâneos, ou aquelas que são "loucas" para engravidar e já tentaram várias vezes sem obter sucesso.

O poder da sugestão é tão grande e o desejo tão verdadeiro que o corpo começa a refletir mudanças físicas que se assemelham a uma gestação fisiológica. Ocorrem mudanças na pele, pode haver uma leve queda capilar, enjoos, desejos, retenção líquida, idas mais frequentes ao banheiro e crescimento dos seios e da barriga que na gravidez psicológica (sem a presença de tumor) há apenas tecido adiposo (gordura) devido ao aumento da ingestão de alimentos- como a mulher acredita que está grávida ela passa a ingerir o dobro de alimento que o de costume.

Para a família, entender a gravidez psicológica poderá ser difícil e algumas famílias tendem a achar que não passa de necessidade de chamar atenção, que a pessoa está fazendo de propósito. O que acaba gerando tratamentos hostis em relação a mulher acometida pelo problema. Como contornar a situação? Em tais casos é aconselhável que o companheiro (em principal) seguido da família adotem uma postura mais acolhedora, carinhosa e respeitosa com os anseios, os medos e as expectativas da mulher que verdadeiramente se percebe grávida e acredita veementemente na sua gestação.

É aconselhável que a família busque ajuda de um psicólogo. Porque a  mulher não irá procurar espontaneamente pelo mesmo, pois realmente se percebe grávida. Não se trata de uma mentira, a gravidez psicológica é vivida pela mulher como uma gravidez real. Há casos em que tais síndromes são desenvolvidas a partir de um quadro clínico real como: síndrome dos ovários policísticos; tumor; câncer ou alterações hormonais. Em tais casos recomenda-se acompanhamento psicológico seguido de tratamento médico.

 A duração do tratamento varia de caso para caso. O sucesso será determinado pelo tratamento adequando e apoio psicossocial que a mulher obtém dos familiares, companheiro e da equipe responsável pela condução do caso. Em uma sociedade/cultura, onde é divulgada a ideia de que a mulher só será feliz e realizada se tiver filhos, não poder tê-los, poderá ser sentido como um fracasso, uma incapacidade. Crenças que só serão revertidas pelo viés do amor e da compreensão do que "ter um bebê" representaria para aquela pessoa.

Por Dani Souza





                          Saúde da mulher- Gravidez Psicológica
 

26 maio, 2012

A mastectomia e sua eterna cicatriz psicológica



A cirurgia de mastectomia (retirada da glândula mamária) além de contar com uma variedade de técnicas, é realizada levando em consideração aspectos como tamanho, localização e comportamento do tumor. Seria apenas mais um procedimento cirúrgico se não impactasse tanto na psique feminina e se não fosse percebida como uma mutilação deixando sempre a sua marca na mente, no corpo e na alma.

Ontem tive a chance de conversar com uma mulher que foi mastectomizada e que já está realizando exames para se submeter à cirurgia reconstrutora. Durante os anos em que ficou no aguardo para a realização da cirurgia reconstrutora pelo (SUS) ela pode me contar sobre a sua experiência, as suas angústias, o seu medo, a sua espera e, principalmente, segundo ela falar sobre a gratidão e felicidade que sente em estar viva.

A nossa aproximação foi meramente casual. Éramos duas desconhecidas, sentadas na mesma mesa de um aniversário. O que mais me chamou a atenção foi no incômodo que ela sentiu quando a sua echarpe caiu e expôs a sua maior fraqueza - a ausência de um seio. E foi assim que começamos a conversar. Na verdade eu estava disposta a ouvir, a aprender com ela, a enxergar a mastectomia com os seus olhos e não com os meus.

Foi o aniversário mais proveitoso que já fui. Ouvi coisas lindas sobre superação, religiosidade (não confundir com religião), esperança. Mas também ouvi muito sobre sofrimento, dor, desesperança. Lembrei da minha curta estadia na Santa Casa de Misericórdia RJ em regime de estágio na época- em (Psicologia Hospitalar) quando li sobre o que Elisabeth Kubler-Ross definiu em seu livro "Sobre a morte e o morrer" sobre a reação psíquica determinada pela experiência com a morte onde distribuiu em cinco estágios que todas as pessoas passariam ao tomar conhecimento da sua própria finitude como: (negação e isolamento, raiva e barganha, depressão e aceitação).

E conforme a história de vida de T.M ia se desenrolando se passava um filme em minha mente. E eu considerava o fato de ser comigo. E se fosse comigo? Aproveito o espaço para chamar a atenção das mulheres para a necessidade do auto-exame (coisa que eu nunca fiz) sendo extremamente transparente com vocês. Só lembro que tenho seios quando vou comprar lingerie ou vou a tradicional consulta médica.

E foi aí que T.M me surpreendeu ainda mais quando ela faz uma espécie de solilóquio (falar consigo mesma) e finaliza o assunto com a seguinte constatação. Que eu fiquei até com medo de respirar para não interromper: "Muitas pessoas acham a vida ingrata, reclamam disso, reclamam daquilo. Mas nunca param para pensar como seria morrer. Morrer é tão natural quanto respirar. A diferença é quando você está consciente que está morrendo, você vê e sente o seu sofrimento, a sua dor se torna maior não por você. Mas pela triste constatação de saber que aqueles que você mais ama estão sofrendo com você. Só que você pode morrer e eles é que vão ficar com a dor da sua morte para sempre em suas memórias."

Não podemos esquecer a falta de fidedignidade que tem o relato acima. Pois tentei registrar exatamente da forma como ouvi. Mas o fiz sobre o registro da minha compreensão, com as minhas palavras tentando ser o mais fiel possível ao discurso original. As palavras não estavam ajeitadinhas assim. Elas eram mais espontâneas, mais livres, mais profundas e reveladoras do que é se perceber morrendo, definhando, lutando, "se agarrando a vida" com toda a sua força e vontade de potência.

A síntese de T.M foi tão linda, tão verdadeira, tão honesta que me permiti ficar imersa em meus pensamentos e nas sensações que aquelas palavras despertavam em mim por alguns segundos. Sabe aqueles encontros, aqueles momentos, aquelas pessoas que você agradece por ter vivido e conhecido? Ontem eu vivi essa magia, ontem minha alma saiu mais enriquecida deste encontro, ontem eu agradeci por ter conhecido um ser extremamente humanizado, humilde, com uma alma linda, contagiante e extremamente generosa ao compartilhar comigo as dores e as alegrias de uma vida, da sua história.

Ontem eu aprendi que quando ficamos doentes e fragilizados, o segredo é se "agarrar" em alguma coisa. Eu me agarraria na ciência, estudaria a minha doença, as possibilidades, minha mente é descrente e indisciplinada demais para se prender a uma religião. Mas é liberta demais para acreditar na magia da vida, nessa energia maravilhosa que reina, rege e vigora em cada ser vivo desse planeta. Essa é a minha fé, não em um deus (simples criação humana). Mas em uma força que está sempre disposta a entrar em sintonia comigo, sem abrir mão da minha condição humana. 

A ti, T.M, meus eternos agradecimentos por ter contribuído com o meu crescimento pessoal e profissional, por ter me feito mais humana, por te me reconectado com os meus fantasmas do passado, por ter me mostrado que não os controlo como sempre acreditei, por me mostrar que não tenho mais medo deles e sim respeito pelo o que são - fantasmas da mente são atemporais e mais vivos que usualmente costumamos pensar. Mas no fim, são apenas fantasmas.


Por Dani Souza



24 maio, 2012

Depressão ou hipotireoidismo?


A tireoide é uma glândula que fica no pescoço. Para facilitar a localização fica abaixo do famoso "pomo-de-adão." Tal glândula produz dois hormônios tidos como importantes para o funcionamento global do organismo, o T3 e o T4.

Tais hormônios controlam o funcionamento de vários órgãos e interferem diretamente no crescimento; ciclo menstrual/fertilidade; ciclo do sono e vigília; funções cognitivas como raciocínio e memória; temperatura corporal; força muscular, etc.

É justamente pela sua importância e respectivo impacto que a mesma exerce sobre o organismo e seus vários sistemas que o correto diagnóstico de hipotireoidismo se torna imprescindível para a manutenção da saúde do indivíduo. Durante a anamnese (entrevista psicológica) no item história médica; quando bem conduzida norteia o olhar do psicólogo a ponto de fazer futuros encaminhamentos após suspeitar de possíveis doenças e/ou contaminações.

Pessoas que têm hipotireoidismo podem procurar por ajuda psicológica por acreditarem estar com depressão devido à semelhança dos sintomas que são divulgados na mídia diariamente como se fossem exclusivos à depressão. Se realizada uma anamnese superficial realmente o hipotireoidismo poderá passar despercebido e o indivíduo não receberá o adequado tratamento ao qual um olhar atento e treinado "mataria" a charada ou ao menos cogitaria a possibilidade de.

Confira alguns Sintomas do hipotireoidismo

* Cansaço, apatia, desânimo, falha na memória, sono excessivo, queda de cabelo, ganho de peso, unhas quebradiças, etc. Se você preencheu alguns critérios dos expostos acima deve estar se perguntando: "Existe tratamento para o hipotireoidismo?" A resposta é sim. Seguindo o tratamento conforme orientação e prescrição médica a tendência será observar uma diminuição dos sintomas de forma lenta e gradual.

Se após a leitura deste post você ficou em dúvida ou preencheu alguns critérios ou identificou algum tipo de caroço na tireoide procure um médico e peça um exame de TSH (hormônio estimulante da tireoide) coletado através de exame de sangue.

Julguei interessante divulgar tal informação porque dependendo do serviço de saúde da sua região- na hora em que você começar a falar em desânimo, apatia e cansaço alguns profissionais tendem a encaminhar para a psicologia sem dar a devida atenção ao caso. 

Não raro, a pessoa se vê fazendo uma espécie de tour por várias especialidades médicas (se a mesma não tiver a sorte de encontrar de primeira um endocrinologista) a maratona poderá ser longa e dispendiosa com visitas até na psicologia. Quando não há espaço para uma escuta acolhedora e atenta, abre-se um leque para as possíveis falhas na comunicação que, por si só, já é repleta de ruídos. 

Por Dani Souza






16 maio, 2012

Transplante de órgãos, transplante de vidas?


O tema transplante sempre foi mobilizador de várias polêmicas, divergências, atravessamentos religiosos, etc. Além de despertar fantasias inconscientes, expõe a fragilidade da família e do receptor e/ou doador (no caso de doador vivo) e requer uma leitura psicológica para facilitar que tais medos, fantasias e expectativas sejam pontuadas, desmistificadas favorecendo um diálogo mais transparente e elucidativo entre equipe-paciente-família.

Culturalmente, o brasileiro não tem o hábito de discutir abertamente tais questões. Não raro, as pessoas quando se deparam com a própria limitação - coisa que a doença e o inesperado fazem com exatidão (te obrigam a reconsiderar toda uma vida, a replanejar e a se readequar a nova condição), nos deparamos com muitos paradigmas a respeito do tema que se não forem devidamente manejados poderão impedir tal procedimento ou impactar diretamente sobre o sucesso do mesmo.

E aí falamos de psicossomática, dos impactos que a ansiedade, o medo, o não entendimento do que realmente está acontecendo consigo mesmo podem agravar outros quadros médicos como diabetes, hipertensão e questões outras de ordem psicológica se refletindo no corpo e vindo à tona em um momento que se esperava total estabilização do quadro clínico do paciente.

É de fundamental importância que se faça um acompanhamento psicológico da família e do paciente para minimizar tais questões e para escutar o que a família pensa, qual o apoio que ela pode dar ao paciente e detectar quais são os pontos fortes e fracos de ambos durante esse processo (Não abordarei aqui a escassez de psicólogos no quadro técnico da rede pública e privada no Brasil).

O que mais comumente acontece é a sensação de que receber um órgão de uma outra pessoa possa trazer consigo algumas características do doador. Nessa hora as fantasias começam a aparecer e muitas dúvidas do tipo "Mas será que depois que receber o coração vou continuar amando as mesmas pessoas de antes?" ou "E esse fígado será que o doador bebia? Era uma boa pessoa?"

E quando esse momento surge nada como o respeito, a empatia e o esclarecimento para entender que de fato não é tão simples assim receber um órgão que foi de uma outra pessoa. Enfim, o tema requer muita ética e compreensão por parte da equipe médica e todos os envolvidos direta ou indiretamente no caso. 

Principalmente quando o paciente se mostra relutante e parece fazer de tudo para "dificultar" o seu próprio tratamento. Muito do comportamento não cooperativo (das resistências) vem do medo, de uma possível falha entre a comunicação da equipe-paciente, das fantasias que não encontraram espaço para vir à tona. É nesse momento que somos chamados para apaziguar o que é extremamente normal e esperado- o medo frente ao desconhecido, o medo de encarar a sua própria finitude, a dúvida se vai dar certo ou não... 


Por Dani Souza

22 abril, 2012

Bullying - nosso velho e novo conhecido!



Atualmente o bullying tem sido apresentado como novidade, algo nunca visto antes, sentido, presenciado por pais, alunos, professores e sociedade civil. A minha geração foi vítima do bullying, sou da década de 80.

Quem nunca foi chamado de rolha de poço; Olívia Palito; Orelha de abano e vesgo, por exemplo?
Talvez você esteja se perguntando:"Então qual é a diferença?". 

É que até então tais agressões eram vistas como algo que fazia parte da dinâmica dos grupos, algo que não causava sequelas físicas e psíquicas porque havia "pleno consentimento" entre o que hoje chamamos de agressor-agredido. 

Embora na sua origem fossem verdadeiras agressões. Eram sentidas como brincadeiras que causavam certo incômodo, mas que não passavam disso. Não estouravam em brigas, em agressões que necessitassem de intervenção médica, psicológica e jurídica. 

Nem as escolas, nem os pais, nem os alunos sabiam o que era o bullying senão uma típica brincadeira que no máximo iria requerer uma espécie de "acerto de contas" feito pela autoridade máxima que presenciasse a cena poderia ser um professor, um dos pais dos envolvidos. Mas a apaziguação era sempre muito interessante. 

Geralmente colocava-se os responsáveis pelo furdunço cara- a- cara e diziam: "Fulano pede desculpa ao ciclano. Agora aperta a mão do amiguinho." E assim as maiores raivas e inimizades eram dissolvidas e a brincadeira recomeçava e ninguém ficava remoendo o ocorrido.

O bullying apresentado agora com uma roupagem americanizada, é mais marginalizado, recheado de ódios diversos, de verdadeiros intuitos de destruição, aniquilamento do outro.

Um ódio repentino, infundado, irracional. Um verdadeiro vale-tudo nos corredores, no pátio das escolas. Mas que se estende para diversos outros ambientes. O que você acha que deveria ser feito com o nosso velho-novo bullying? A propósito, você já sofreu bullying?  

 Por Dani Souza