21 março, 2012

Psicofármacos versus Crianças



No meu exercício clínico com crianças tenho observado um fenômeno que em muitos casos se torna assustador. O crescente número de crianças que são usuárias de Psicofármacos, o famoso "tarja preta". E não raro tais crianças são medicadas por apresentarem sintomas como irritabilidade, agressividade, hiperatividade, transtorno de déficit de atenção dentre outros tão comuns e esperados nesta respectiva fase do desenvolvimento onde ainda não há maturação física-psíquica-emocional.

Em alguns casos faz-se realmente necessária a prescrição e o auxílio farmacológico. Mas na grande maioria dos casos observa-se que predomina uma espécie de "receita de bolo" onde alguns sintomas, algumas queixas dos pais somadas ou não à queixa escolar já são suficientes para que os pequeninos saiam dos consultórios médicos medicados, com pedidos de Eletroencefalogramas que mais oneram que resolvem o problema, se usados de forma descompromissada.

Particularmente acredito que o nosso olhar sobre a infância mudou e mudou tão dramaticamente que hoje pensamos a infância como um trampolim para o mercado de trabalho. Os pequeninos desde muito cedo já são preparados para cumprir verdadeiras maratonas todas enfatizando o futuro, o vestibular, a faculdade, o mercado? Gente... o tempo de ser criança é agora e está sendo abafado pelos anseios de uma sociedade moderna, patológica, contraditória que gera cidadãos robotizados, tecnológicos, ágeis no clicar frenético dos mouses.

Sempre peço aos pais, aos educadores, as pessoas que lidam com crianças que contextualizam o ambiente na qual tal criança está sendo exposta. Geralmente são ambientes controlados, permeado de outros adultos, espaços pequenos onde os móveis estão sempre disputando espaço com a criança. 

As crianças estão sendo escravas do luxo, dos ambientes controlados que mais aprisionam que libertam. Não há mais espaço para brincar com o outro, para socializar, para as trocas sociais que são pautadas na análise do diferente, na tolerância e no respeito ao próximo. E depois de tudo isso ainda vai me dizer que tais crianças são hiperativas? Recorro ao Cláudio Lyra Bastos quando considera: 

 ..."No entanto, a grande maioria das crianças pretensamente hiperativas... não passa, na verdade, de crianças e famílias simplesmente ansiosas, assim rotuladas por uma avaliação apressadas e superficiais. Qualquer criança tende a refletir facilmente o ambiente emocional criado pelas pessoas com quem convive..." (Manual do Exame Psíquico, 2ed. p.112)

Portanto nunca é demais ressaltar que qualquer tratamento voltado para tal público só terá êxito se questões subjetivas como história de vida da criança, vida escolar, vida familiar forem cautelosamente levantadas e consideradas na terapêutica proposta pelo profissional de saúde. 


Qualquer outro caminho adotado é mera especulação científica e poderá expor a criança em sofrimento psíquico frente a sua nova condição e o seu novo "rótulo." Os pais geralmente chegam aos consultórios de Psicologia afirmando: "Zequinha esteve no médico, ele é TDAH*."

*Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade 

 Por Dani Souza

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